A mídia não pode te pautar

Marcado o encontro! Show! Finalmente vou sair com a mulher que conheci no Tinder há pelo menos um mês! Sábado à noite? Perfeito! Agora é me preparar para o momento. Os dias passam e finalmente chegou a hora! O bar como cenário para nos conhecermos. Cumprimentos iniciais, bem como os protocolos, até o papo fluir. De repente, em menos de meia hora, ambos estão constrangidos e querendo uma brecha para se despedirem o mais rápido possível. O assunto ‘política’ estava em cena para desgraçar a minha noite – e a dela.

O relato é verdadeiro e aconteceu comigo há cerca de três anos. O encontro já começou errado pois cheguei atrasado. Com a crush ‘pistola’, o papo foi iniciado e, dentre os contextos, o assunto sobre Governo A x Governo B nos transformou em dois animais irracionais incapazes de escutar um ao outro. Calma, não batemos boca. Aliás, foi talvez um dos raros momentos antes de trabalhar com o coach Edward Ross em que mostrei maturidade, pois é comum, por parte de homens, perder a cabeça e fazer besteira. Só que aquele encontro me deixou encafifado. Como uma merda de um assunto abstrato como política estragou minha tentativa de me relacionar com a gatinha?

Maldita IMPRENSA!

Sim, coloco a culpa também nos noticiários! Imagina um assunto debatido exaustivamente. Ele fica no teu subconsciente. Você vai à praia, mas leva na mente uma matéria que leu. Pronto, já serviu para ter algum assunto com qualquer pessoa. É sobre política? Opa, melhor ainda, já que é o assunto do momento. Porém, o que a mídia faz é justamente te pautar com os pensamentos dela, mídia! E jornal tem ideias? Noticiários têm vidas próprias? Sim e sim!

O indivíduo é ‘doutrinado’ a ver e debater aquilo que a agenda da mídia está mais interessada. Faça um exercício simples. A seguir terá uma lista:

– Venezuela

– Vidas Negras Importam

– Lava-Jato

– Reforma da Previdência

– Amazônia

Estes foram assuntos ‘exageradamente debatidos’ no último ano. A aspa, aqui, foi proposital, já que não é assim que a banda toca. O exercício é: destes assuntos, quantos você viu noticiados de forma contínua? Pode ter certeza que nenhum! Por exemplo, o Vidas Negras Importam foi noticiado sem parar em junho.

Os brasileiros surfaram a onda do caso acontecido nos EUA quando um homem negro foi enforcado até a morte por um policial de cor branca numa imobilização. A relevância do tema no momento era enorme, mas, ‘do nada’, o assunto ‘morreu’ em duas semanas – outras cortinas de fumaça foram jogadas para que o coletivo se esquecesse do que era tratado.

Assim é regida a orquestra pela mídia.

Não à toa ela é classificada como QUARTO PODER.

Quando começamos o LikeUs Training, uma das referências da época, tanto para mim e quanto para o coach Edward Ross, era o seriado Californication. O personagem principal, Hank Moody, é muito citado até hoje no mundo da sedução. Uma de suas premissas é “Não leia jornal ou veja noticiários”. Para ele, as matérias são tóxicas em sua totalidade. Moldam a sociedade e o indivíduo com imagens compactadas/editadas e assuntos resumidos em palavras – sejam em grandes textos ou curtas em uma manchete/chamada.

Buscar o sentido que determinado veículo quer dar a uma informação é o grande desafio!

Hank Moody tem razão em partes: consumir notícias sem racionalizar os assuntos sempre trará mais unilateralidade ao seu subconsciente – isso moldará seu comportamento num encontro. O importante é cada indivíduo perceber, através de estudos e leituras, o que determinada matéria está querendo transmitir.

Acima citei as manchetes. Aquelas poucas palavras – menos que uma postagem de Twitter – espalhadas num site de notícia são capazes de provocar discussões. Sim, pois a maioria das pessoas não clica para ler a matéria; prefere apenas absorver o pequeno texto (uma frase!) resumindo o acontecimento. Apenas com a informação da manchete acaba tomando partido por algo que entendeu apenas superficialmente. Ou pior, passa a ter opinião (e defender apaixonadamente) sobre algo sem ver e buscar contrapontos. Faz o que a mídia muitas vezes quer que você faça: adotar o ponto de vista dela sem questionar e ainda defendê-lo e multiplicá-lo.

Entretanto, mesmo quem passa das manchetes também deve ter muito cuidado! Ler uma matéria não garante sucesso num encontro ou em qualquer situação de relacionamento caso você não saiba expor suas ideias e opiniões de forma sensata. Lembra do primeiro parágrafo? A forma como eu e a garota nos expressamos sobre o assunto foi incorreta. O excesso de informação nem foi tão ruim: o que minou a noite foi o excesso de opinião (indiretamente da mídia).